sexta-feira, 30 de novembro de 2012

A participação dos negros escravos na guerra do Paraguai


As denúncias de que o exército brasileiro ao lutar na guerra (1864-1870) era formado por escravos não são novas. Ao contrário, têm pelo menos cento e vinte anos. Seus primeiros autores foram os redatores dos jornais paraguaios da época. Tratavam de menosprezar o exército brasileiro com base no duvidoso argumento de que, por ser formados por negros, deveria ser de qualidade inferior.
Mais recentemente, diversos autores tentaram ressuscitar o argumento de que o exército brasileiro, era formado por negros escravos alistados compulsoriamente.
Soldados negros, ex-escravos ou não, lutaram em pelo menos três dos quatro exércitos dos países envolvidos. Os exércitos paraguaio, brasileiro e uruguaio tinham batalhões formados exclusivamente por negros. Como exemplos temos o Corpo dos Zuavos da Bahia e o batalhão uruguaio Florida. Escravos propriamente ditos, engajados como soldados, lutaram comprovadamente nos exércitos paraguaio e brasileiro.
Para se avaliar corretamente a participação dos negros escravos na guerra é preciso, primeiramente, esquecer ou suspender a questão das nacionalidades envolvidas. Com efeito, se os negros lutaram sob pelo menos três das quatro bandeiras presentes no conflito, o foco da análise deve ser posto sob a situação dos escravos e de seios descendentes nesses exércitos e não sobre suas nacionalidades.
Não repito aqui o erro dos ideólogos lopiztas, que consideravam o exército brasileiro – soldados e oficiais – formado indistintamente por macacos; e nem o dos detratores do Paraguai, que consideravam seu exército formado por caboclos, termo depreciativo que no Brasil designa índios e seus descendentes mais ou menos aculturados, e seu povo formado por descendentes dos guarani, uma vaga referência etnográfica. Negros e índios teriam sido, por essas análises baseadas em simplificações raciais, as maiores vítimas da guerra.
Para além dessas versões ideologizantes, procurarei esclarecer a convocação do negro, ex-escravo, aos exércitos paraguaio e brasileiro, bem como sua participação na guerra.

Como matar a los negros
A frase dita pelo presidente paraguaio Francisco Solano López depois de receber na barriga o golpe de lança do cabo de ordens do coronel Joca Tavares, seu xará Francisco Lacerda – matem a esos diablos de macacos! –, é reveladora da idéia que seu governo queria fazer dos brasileiros no país.
Na época da guerra (1864-1870), no Paraguai, o negro era, antes de tudo, o inimigo. O exército brasileiro era o exército macacuno, e seus líderes, segundo a propaganda lopizta, macacos que pretendiam escravizar o povo paraguaio, conduzindo-os da liberdade à escravidão.

O imperador é definido como um gran macaco representado sempre com uma longa cauda, Caxias um descomunal sapo preto que se locomovia montado numa tartaruga. O Cabichuí, jornal do exército paraguaio, define o soldado brasileiro: "La palabra guaraní camba se aplica a los negros, y más genérica y propriamente al esclavo. Hablar de un brasilero es, pues, hablar de un camba bajo el punto de vista de su color y de su condición de esclavo, y aun mas propriamente de un camba para representar la ruindad, la pequenez, la miseria, el amilanamiento de esa raza despreciable que hasta es una afrenta para la especie humana" (Museo del Barro 1984, Cabichuí, n. 8, 1).
Na imprensa oficial, através do Cabichuí do El Centinela eram freqüentes chamadas como: "Así se cazam los negros"; "Fuego a los negros"; "Como matar a los negros"; "Ejercito macacuno jugando Carnaval"; "Látigo con los negros" etc.
Com base na propaganda poder-se-ia pensar que no Paraguai da época não existiriam negros nem escravos. Por conseguinte não existiriam, também, negros escravos ou ex-escravos no exército paraguaio.
A realidade era diferente. A escravidão não havia sido abolida do Paraguai. O que havia era uma lei do ventre livre promulgada em 1842 por Carlos Lopes, pai de Francisco Solano López. Os libertos da República, os que nasciam de Janeiro de 1843 em diante, deveriam, no entanto, trabalhar para seus senhores, patronos, os homens até a idade de 25 anos e as mulheres até os 24. Era uma liberdade bastante relativa, portanto.
O recrutamento sistemático de escravos no Paraguai inicia-se em setembro de 1865, apenas um ano depois do início da guerra, para preencher as baixas de feridos e de epidemias que assolaram o exército. Destacamentos formados por ex-escravos vindos do interior foram vistos em Assunção em meados de 1966 (Laurent-Cochelet,apud Rivarola, 1988:132). Este seria, no entanto, o segundo contingente importante de homens de cor – negros ou mulatos– incorporados ao exército. O primeiro foi integrado à Divisão que fez a invasão do Mato Grosso e da Argentina, em 1864 e 1865.
Em uma foto de oito prisioneiros paraguaios capturados em 1866 por Flores aparece um negro, com o gorro de couro dos soldados de infantaria pintado com as cores da República paraguaia.


Em setembro de 1866 outro grupo de escravos é alistado para preencher as graves baixas sofridas pelo exército paraguaio nas batalhas de Estero Bellaco Tuyuti (2 e 24 de maio de 1866). Estes seriam os últimos no território paraguaio (Rivarola, 1988:132-133). Pode-se dizer, de maneira trágica, que a guerra acabou, de fato, com a escravidão no país. Sob o ponto de vista legal, a escravidão no Paraguai foi abolida pelo Conde D'Eu, "baseado em sua própria autoridade" (Schulz, 1994:71), então comandante das forças brasileiras, em setembro de 1869, depois da invasão de Assunção e da virtual, ainda que incompleta, vitória militar dos aliados.
As autoridades paraguaias, que convocaram os proprietários de escravos para doações voluntárias, ofereciam uma indenização, mas ninguém se permitia reclamá-la (Rivarola, 1988:133). No Arquivo Geral de Assunção ainda se conservam aproximadamente uma dezena dessas cartas de doação de escravos para a guerra. Os textos parecem seguir um padrão, tendo sido lavrados na mesma ocasião e pela mesma mão. Sem dúvida alguma, os proprietários foram pressionados à doação. Vejamos uma dessas cartas:
"Sello Tercero [do governo de López] año de 1866
¡Viva la República del Paraguay!
Digo yo la infrascrita Gregoria Larrosa natural de la República y vicina de Villa Rica que otorgo entera libertad al liberto de la República Celestino de quince años de edad que lo hube por compra a Da. Iginia Leyta y lo presento ante el señor Comandante Militar de esta Vila para que sea enrolado como hombre libre y destinado al Servicio de las Armas en la presente Guerra con los enemigos de la libertad e Independência Nacional de la República sin exigir precio ninguno por el valor de dicho liberto no obstante que el Señor Comandante me ha prevenido que me avonaria el valor de dicho liberto en el Tesoro Nacional, lo que renuncio espontáneamente por mi y por mi herederos para siempre y para perpetua constancia de esta manumisión firmo la presente em Villa Rica a 4 de noviembre de 1866.
A ruego de Na. Gregoria Lamosa por decir no saber firmar. Gregorio Vasquez" (Archivo General, seción histórica, v. 349).
O exame desse documento mostra que o comercio de escravos continuou mesmo depois da lei de ventre livre. Mostra também que os libertos da República não deviam unicamente trabalho aos seus senhores. Estes, e o Estado paraguaio, dispunham de suas pessoas. Era um regime de escravidão plena, no qual o Estado praticava um confisco. Chama a atenção, nesse caso concreto, a pouca idade do escravo Celestino, quinze anos apenas, destinado à guerra.
Não só a população escrava é recrutada na sua totalidade. Até setembro de 1866 já se recrutara toda a população masculina entre dez e 60 anos (Masterman, apud Rivarola, 1988). A partir daí, o envolvimento de toda a população masculina para a guerra é total e, em meados de 1867, praticamente já não existem exceções para o recrutamento. Velhos, inválidos e doentes são convocados. Crianças de sete anos são convocadas, ainda nesse ano, para o serviço militar (Rivarola, 1988:133). O extermínio da população masculina paraguaia é compreendido quando se pensa que a guerra e as convocações só terminariam três anos depois, em 1870.
O alistamento de escravos deve ser entendido, portanto, na perspectiva de um país com população de 400 mil pessoas (Brun, 1989:18) que enfrentava uma invasão de países com populações muito mais numerosas que a sua.
O paraguaio, ante o recrutamento forçado, tem na deserção a única saída. As primeiras iniciam-se já em 1865, na coluna que invadiu o Brasil. Sua continuidade e o aumento da criminalidade no interior do país fará o governo López adotar duras medidas contra os desertores, seus companheiros e famílias. Essas medidas ficaram tristemente famosas. O caso do mulato desertor Bernardo Pelaes, gradualmente moído numa prensa de tabaco é apenas um entre muitos (Laurent-Cochelet, apud Rivarola, 1988:138).

Lutar é para os pobres:
o escravo no exército brasileiro

A população brasileira em 1850, 14 anos antes da guerra, era de aproximadamente dez milhões de pessoas, das quais uma quarta parte era constituída de escravos (Gorender, 1978:319). Os insuficientes efetivos do exército brasileiros foram reforçados, para a guerra, pelos contingentes da polícia e da Guarda Nacional das províncias do império. Criou-se em janeiro de 1865, além disso, os Corpos de Voluntários da Pátria para canalizar o movimento patriótico que, num primeiro momento, levou muitas pessoas a se alistarem para lutar contra a invasão paraguaia do Rio Grande do Sul e de Mato Grosso (Fragoso, 1934:35-37).
Como a campanha se anunciasse longa e o entusiasmo popular arrefecesse, os presidentes das províncias recebiam cotas de voluntários que deveriam encaminhar ao cenário da guerra. Ainda em 1865 iniciou-se o recrutamento forçado para formação dos Corpos de Voluntários da Pátria; e o termo voluntários tornou-se uma piada (Schulz, 1994:59).
Os chefes políticos locais e a oficialidade da Guarda Nacional, que era uma milícia à mando dos oligarquias rurais, tentavam forçar o alistamento de seus oponentes causando sérios conflitos nas províncias.
Os cidadãos do império dispunham de diversas formas de se esquivarem da convocação. Os mais aquinhoados, utilizavam-se de doações de recursos, equipamentos, escravos e empregados à Guarda Nacional e aos Corpos de Voluntários para lutarem em seu lugar; os que podiam menos, faziam oferecimento de familiares, ou seja, alistavam seus parentes, filhos, sobrinhos, agregados etc.
Aos despossuídos não restava outro recurso para escapar ao alistamento que a fuga para o mato. A população do corte e das províncias rebelavam-se contra as autoridades recrutadoras, os delegados de polícia e seus prepostos, que "iam caçar o caboclo no Amazonas e no Pará, o tabaréu nordestino na caatinga, o matuto na sua tapera, o caiçara no litoral, enfim brancos, mulatos e negros que, depois de reunidos e contados, eram despachados em magotes" (Queiroz Duarte, apud Salles, 1990:102). A questão do recrutamento militar compulsório, aliada à disputa do ministério liberal de Zacarias com o conservador Caxias pela disputa da condução da guerra, forçaram a queda do primeiro em 1868, criando grave crise política e a volta dos conservadores.
compra de substitutos, ou seja, a compra de escravos para lutarem em nome de seus proprietários, tornou-se prática corrente. Sociedades patrióticas, conventos e o governo encarregavam-se, além disso, da compra de escravos para lutarem na guerra. O império prometia alforria para os que se apresentassem para a guerra, fazendo vista grossa para os fugidos.
O próprio imperador deu o exemplo, libertando todos os escravos das fazendas nacionais (Schulz, 1994:60) para lutarem na guerra. Em dezembro de 1866 o Imperador escrevia ao seu ministro da guerra: "Forças e mais forças a Caxias, apresse a medida de compra de escravos e todos os que possam aumentar o nosso Exército" (apud Lyra,1977:241).
Não existem números certos sobre a porcentagem de escravos alistados no exército imperial. Salles (1990:103), que dedicou um livro ao assunto, cita algumas estimativas. Segundo o general Queiroz Duarte, que trabalhou os números dentro de uma ótica que visava a valorizar os alistamentos voluntários, os ex-escravos, libertos, seriam apenas 8.489 pessoas em meio ao contingente mobilizado para a guerra, que perfazia um total de 123.150 soldados. Ou seja, 6,9% de escravos do total de soldados do exército.
Robert Conrad, por sua vez, estima em 20 mil o total de escravos, incluindo-se as mulheres dos soldados, que conseguiram a liberdade com a guerra. Um "Mapa dos Libertos que têm assentado praça desde o começo da guerra", elaborado pelo Ministério da Guerra aponta, até abril de 1868, um total de 3.897 escravos cedidos por conventos, substitutos da Casa Imperial, por conta da nação, por conta do governo etc., o que representava 5,5% do total do exército (apud Salles, 1990: 64-65).
Tais dados, apesar de precários e insuficientes, demonstram que o exército brasileiro dificilmente poderia ser compreendido como um exército de escravos, como afirma Chiavenatto (1983:27).
Machado de Assis, em seu romance Iaiá Garcia escrito no final da década de 70, mostra as condições em que um jovem bem-posto socialmente se apresenta ao conflito em 1866. A mãe de um recalcitrante voluntário diz, a certa altura: "podemos arranjar-lhe um posto de tenente ou alferes" no Corpo de Voluntários da Pátria (1951:16). O que se esconde por trás de suas palavras é meio óbvio: uma família de posses compra divisas e postos no exército.
O general Dionísio Cerqueira, que alistou-se voluntariamente, deu outro exemplo na mesma linha: "um primo carnal, o major da Guarda Nacional João Evangelista de Castro Tanajura, moço rico, organizou formoso corpo de gente escolhida no sertão, vestiu-o, alimentou-o e transportou-o até a capital onde foi aquartelado para seguir para o sul". Esse mesmo corpo foi subtraído ao comando do referido oficial, em função de política partidária, o que o levou à morte por febre cerebral causada por desgosto (Cerqueira, 1980:56).
Torna-se claro que os limites da cidadania efetiva do império iguala os escravos e despossuídos como material humano disponível para a guerra. A Guarda Nacional, apesar da inspiração liberal do modelo francês, terminou a serviço de oligarquias, alistando compulsoriamente qualquer um, desde que pobre ou adversário político. Os Voluntários da Pátria, por seu lado, dada a ausência de entusiasmo popular depois da fase inicial da guerra, também receberam em suas fileiras escravos e substitutos de toda sorte.
A questão aqui parece ser menos racial e mais de exclusão social. Além dos limites estreitos da cidadania todos são compreendidos como voluntários, bons para a guerra. Os mais aquinhoados têm mais condições de escaparem; os mais pobres recorrem ao exílio dos matos. O que menos dispõe de meios de resistência é exatamente o escravo, que troca a enxada pelo mosquetão, deixa de obedecer ao capataz e entrega sua vida aosenhor oficial.
A situação era tal que o escritor Joaquim Manoel de Macedo, líder da facção avançada do Partido Liberal, afirmou na época: "os brasileiros não se alistavam voluntariamente por acreditarem que só os pobres lutavam" (Schulz, 1994:61).
Além de convocados de forma compulsória, escravos ou seus descendentes libertos, sofriam com a discriminação racial dentro do próprio exército. O contingente sulista (Rio Grande do Sul e Bahia foram as províncias que mais contribuíram com homens para a guerra) recebia mal os homens de cor do Norte e do Nordeste. Um dito popular entre os sulistas no exército em operações era: "Mandai, Mãe de Deus, mais alguns dias de Minuano para acabar com tudo que é baiano" (Cerqueira, 1980:72).
Dentro do próprio exército em campanha reproduziam-se aspectos da sociedade que o engendrou. Soldados pobres trabalhavam para os oficiais como criados. A Ordem do Dia para 24 de maio de 1866, dia da batalha deTuiuti, deixava bem claro que todos os integrantes dos batalhões deveriam estar a postos, "mesmo os bagageiros e camaradas dos senhores oficiais" (Cerqueira, 1980:155).
Muitos anos depois da guerra, um antigo oficial – Dionísio Cerqueira –, filho de família rica do interior da Bahia, encontrou-se com seu ex-camarada (criado). Este se perfilou, tirou o chapéu e abraçando sua perna, pois o oficial estava a cavalo, disse, comovido: "Seu ajudante... meu senhor... (Cerqueira, 1980:340).

Lutando a guerra dos outros
O Império do Brasil que foi à guerra era, como é até hoje, o maior e mais populoso Estado da América do Sul. Suas exportações de café, açúcar e algodão eram muito maiores que as de todos os outros países envolvidos somados. Sua população escrava excedia em muito toda a população paraguaia. Em 1862 assumiu um ministério liberal depois da hegemonia conservadora que vinha desde 1848. O Brasil, no cenário internacional e junto à opinião pública nacional, havia sido humilhado na Questão Christie. Somando uma espinhosa discussão sobre a renovação do Tratado Comercial e a repressão ao tráfico negreiro, o Império rompeu relações com a Inglaterra em 1862. Internamente, as coisas também não iam bem: em 1864 ocorreu grave crise financeira, que acarretou falta de crédito e de dinheiro na praça.
A invasão brasileira do Uruguai, em defesa dos estancieiros gaúchos, e a posterior agressão paraguaia, em solidariedade aos blancos uruguaios, invadindo o Rio Grande do Sul e o Mato Grosso, foram oportunidades para o ministério Zacarias mostrar-se competente defensor da enxovalhada honra nacional e dos interesses das elites brasileiras no exterior (Doratioto, 1994).
López, por seu lado, planejava a redistribuição de poder na bacia do Prata. Através de uma esperada união de interesses com as separatistas províncias argentinas de Entre Rios e Comentes, e com os blancos depostos pelos brasileiros no Uruguai, sonhava em romper o isolamento de seu país através do porto de Montevideo e contrapor-se ás políticas de Buenos Aires e do Rio de Janeiro.
A Argentina havia sido recentemente unificada sob os unitários de Buenos Aires com a derrota dos federalistasagrupados sob a Confederação Argentina. Com o término do longo processo conhecido como luta dos estados argentinos (1850-62), o governo Mitre via com muita preocupação López formar um exército poderoso e aliar-se às províncias secessionistas. Para a Argentina porteña interessava a destruição de López e de seu exército, condição imprescindível para selar a unidade nacional (Brun, 1989:192).
O prolongamento da guerra trouxe conseqüências conhecidas. Ao reatamento de relações da Inglaterra com o Brasil em 1865, seguiu-se o financiamento da guerra por créditos conseguidos na praça daquele país, o enriquecimento de fornecedores argentinos e a destruição do Paraguai e de significativa parte de sua população. Todas as questões fronteiriças pendentes foram resolvidas com a derrota das reivindicações paraguaias por direito de conquista, e o país destruído, o que também senda aos interesses porteños.
No Brasil, um império que baseava sua economia na exploração da mão-de-obra escrava, a cidadania excluía boa parte de sua população. A situação no Paraguai também era, nesse sentido, excludente. Sua sociedade baseava-se em comunidades de self-sustaining members e latifúndios, muitos deles estatais, encimados por um governo fortemente autoritário, no qual o Estado retinha a propriedade da terra e participava do processo de produção, garantindo as condições do isolamento do país (Bandeira, 1985:159-160). A República paraguaia estava longe de ser uma República. O Congresso, convocado para aprovar Francisco Solano López como presidente, não se reunia há muitos anos; e durante a guerra não se reuniu uma única vez. A vontade do presidente e a de sua família impunham-se sobre o Judiciário e o Legislativo. Um sistema de delação, espionagem e repressão policial implacável desencorajava críticas e veleidades de participação nas decisões governamentais, até das elites criollas.
A sorte dos escravos que lutaram na guerra do Paraguai se liga mais à questionável cidadania no Brasil e no Paraguai do que à questão de discriminação racial. O alistamento compulsório atingia igualmente o escravo, a população paraguaia e os pobres brasileiros. Os direitos individuais não existiam nem na monarquia constitucional escravocrata brasileira, nem na pretensa República paraguaia. Buscar algo de específico à condição negra copio característica principal na formação de exércitos e, portanto, das vítimas da guerra corresponde a uma demanda contemporânea sobre um contexto histórico que não responde a essas indagações.

Texto por André Amaral de Toral, doutorando no Departamento de Historia Social da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e mestre em Antropologia Social pelo Museu Nacional (UFRJ).




Proposta de filme: Netto perde sua alma

Dirigido por Tabajara Ruas e Beto Souza. Roteiro de Tabajara Ruas, Fernando Marés de Souza e Rogério Brasil Ferrari. Montado por Lígia Walper. Fotografado por Roberto Henkin. Música de Celau Moreira e Bebeto Alves. 
NETTO PERDE SUA ALMA (2001)

Estrelado por Werner Schünemann e Sirmar Antunes, e Laura Schneider.


Filmado no Rio Grande do Sul e Uruguai. Prêmio de melhor roteiro no Festival de Recife. Indicado ao prêmio de melhor roteiro adaptado da Academia Brasileira de Cinema. Prêmio de Direção em Huelva, na Espanha. Premiado também em Gramado, Brasília e Trieste, entre outros. 

HISTÓRIA DO BRASIL POR BÓRIS FAUSTO - BRASIL IMPÉRIO

Série narrada pelo historiador Bóris Fausto e que, por meio de documentos e imagens de arquivo, traça um panorama político, social e econômico do País, desde os tempos coloniais até os dias atuais. A série é composta, ainda, de entrevistas com algumas personalidades que ajudaram a escrever essa história.

domingo, 18 de novembro de 2012

Consequências


Ao final do conflito, o Paraguai estava arrasado: 90% dos homens e 55% das mulheres haviam morrido. De seus 800mil habitantes, restavam apenas 194 mil. As terras pertencentes a pequenos produtores foram vendidas  a estrangeiros, que começaram a cobrar para que os antigos donos pudessem trabalhar nelas.
A guerra também gerou um custoso endividamento do Paraguai com o Brasil. Essa dívida foi perdoada por Getúlio Vargas, quase meio século depois. Mas os encargos da guerra e as necessidades de recursos financeiros levaram o país à dependência de capitais estrangeiros.
A Guerra do Paraguai também afetou o Brasil. Economicamente, o conflito gerou muitos encargos e dívidas que só puderam ser sanados com empréstimos estrangeiros, o que fez aumentar nossa dependência em relação às grandes potências da época (principalmente a Inglaterra) e a dívida externa. Não obstante, o conflito armado provocou a modernização e o fortalecimento institucional do Exército brasileiro.
Com a maioria de seus oficiais comandantes provenientes da classe média urbana, e seus soldados recrutados entre a população pobre e os escravos, o exército brasileiro tornou-se uma força política importante, apoiando os movimentos republicanos e abolicionistas que levaram ao fim do regime monárquico no Brasil.



sábado, 17 de novembro de 2012

Inglaterra: principal vencedor da guerra

Antes da guerra, o Paraguai era uma potência econômica na América do Sul. Além disso, era um país independente das nações européias. Para a Inglaterra, um exemplo que não deveria ser seguido pelos demais países latino-americanos, que eram totalmente dependentes do império inglês. Foi por isso, que os ingleses ficaram ao lado dos países da tríplice aliança, emprestando dinheiro e oferecendo apoio.


Mas o principal vencedor da guerra foi a Inglaterra, que manteve o domínio econômico sobre a região sem se envolver na luta. Brasil e Argentina conseguiram as terras pretendidas- 140 mil km2, mas aumentaram sua dependência em  relação a Inglaterra.
Os empréstimos brasileiros subiram gradativamente, passando de 3 milhões de libras em 1871 para quase 20 milhões em 1889. Para o governo de dom Pedro II, significaria ainda o declínio de sua popularidade e o aumento da oposição, com movimentos abolicionistas e republicanos ganhando as ruas.oio militar. Era interessante para a Inglaterra enfraquecer e eliminar um exemplo de sucesso e independência na América Latina. Após este conflito, o Paraguai nunca mais voltou a ser um país com um bom índice de desenvolvimento econômico, pelo contrário, passa atualmente por dificuldades políticas e econômicas.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Muero con mi Patria!


 Francisco  Solano López morreu aos 43 anos, há 141 anos, nas margens de uma sanga, afluente do Rio Aquidabánnigui (Aquidaban, em português), na localidade de Cerro Corá, distante 25 quilômetros do município de Ponta Porã, em Mato Grosso do Sul. A morte de Solano López reforçou a imagem do “ditador” como sendo o símbolo máximo do povo paraguaio. Em todas as cidades guaranis se pode encontrar uma rua, uma praça, escola que leva o nome de Francisco Solano López. E sua morte trágica e anunciada também levou ao fim  o mais sangrento conflito da história da América do Sul; A Guerra do Paraguai (1865-1870), episódio que uniu Brasil, Argentina e Uruguai (Tríplice Aliança), contra o Paraguai.
  No Parque Nacional de Cerro Corá, com uma área de 5.538 hectares, criado em 1976, num vale cercado por montanhas em forma de caracol  fica o local de preservação a memória do Marechal Francisco Solano López, outros 18 militares e do filho do Marechal, o Coronel Juan Francisco Solano López, o “Panchito”, que morreu aos 16 anos, como seu pai, sem se render às forças brasileiras comandadas pelo general Câmara, que tinha uma tropa de aproximadamente 2.800 homens, frente aos cerca de 400  famintos e desesperados paraguaios.
  Existem muitas versões sobre os últimos momentos de vida de Solano López. A versão mais aceita é a do general Câmara, comandante brasileiro na batalha de Cerro Corá. O primeiro desafio de Câmara foi identificar quem era o comandante paraguaio entre 400 combatentes. A tarefa foi resolvida com certa facilidade. Num exército formado por desnutridos, famintos, doentes, o único que era robusto e até gordo, só poderia ser o Marechal Solano López. E o que se passou naquela manhã de 01 de maio de 1870, é o relato que Câmara enviou às autoridades imperiais, que diz o seguinte.
  “O tirano foi derrotado, e não querendo render-se foi morto a minha vista. Intimei-o com ordem de render-se quando estava completamente derrotado e gravemente ferido, e não querendo, foi morto.” E a missão de matá-lo coube ao lanceiro Chico Diabo, que perfura seu ventre com uma pontada de baioneta. Perdendo muito sangue, López tenta sair da sanga. Cai e novamente é intimado a render-se. Nega-se. Resiste fracamente ao desarmamento. Então, o lanceiro brasileiro lhe abre o crânio com um raivoso golpe de baioneta. Agonizante, antes do último suspiro, Solano López teria dito: “Muero con mi Patria”.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Duque de Caxias: Um dos líderes brasileiros no combate

Esta guerra durou seis anos; contudo, já no terceiro ano, o Brasil via-se em grandes dificuldades com a organização de sua tropa, pois além do inimigo, os soldados brasileiros tinham que lutar contra o falta de alimentos, de comunicação e ainda contra as epidemias que os derrotavam na maioria das vezes. Diante deste quadro, Caxias foi chamado para liderar o exército brasileiro. Sob seu comando, a tropa foi reorganizada e conquistou várias vitórias até chegar em Assunção no ano de 1869. Apesar de seu grande êxito, a última batalha foi liderada pelo Conde D`Eu (genro de D. Pedro II).


Aceitar o comando das forças militares brasileiras no Paraguai significou, para Caxias, um grande sacrifício pessoal. Afinal, aos 63 anos de idade, era, para os padrões da época, um ancião, que, após uma carreira de vitórias militares, atingira o posto máximo do generalato e, ainda, ocupava o cargo vitalício de Senador. Poderia ter permanecido confortavelmente no Rio de Janeiro, pois
nada tinha a ganhar, no plano pessoal, indo para a guerra. Ao contrário, ao aceitar comandar um exército que se encontrava desorganizado e desmoralizado após a derrota de Curupaiti, ele colocava em risco sua trajetória de vitórias militares; expunha-se às críticas dos seus adversários políticos – o que, de fato, ocorreu – e, devido à sua idade, arriscava a própria saúde nas duras condições climáticas e características físicas do território em que foi travada a guerra. Mas, afinal, comandar as tropas brasileiras, em circunstâncias tão delicadas, era uma missão à qual não se recusaria Caxias, cuja carreira estava identificada com o nascimento e a defesa do Império do Brasil.

O Marquês de Caxias assumiu o posto de comandante-em-chefe das Forças Brasileiras em 19 de novembro de 1866. No mês seguinte, em 22 de
dezembro, o comando da Esquadra foi transferido para Joaquim José Ignacio, Visconde de Inhaúma. O momento era difícil, pois o Exército aliado encontrava-se desarticulado – já que faltavam tropa pronta para o combate e recursos bélicos adequados – e alquebrado psicologicamente. Ademais, o marquês tinha de pôr fim às disputas militares e políticas entre seus oficiais, pois à época grande parte deles era partidarizada, adepta quer do Partido Liberal, quer do Conservador.


quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Batalhas


A guerra do Paraguai durou seis anos, período durante o qual travaram-se várias batalhas. As forças militares brasileiras, chefiadas pelo Almirante Barroso, venceram a batalha do Riachuelo, libertando o Rio Grande do Sul. Em maio de 1866, ocorreu a batalha de Tuiuti, que deixou um saldo de 10 mil mortos, com nova vitória das tropas brasileiras.
Em setembro, porém, os paraguaios derrotam as tropas brasileiras na batalha de Curupaiti. Desentendimentos entre os comandantes militares argentinos e brasileiros levaram o imperador Dom Pedro II a nomear Luís Alves de Lima e Silva, o duque de Caxias, para o comando geral das tropas brasileiras. Ainda assim, em 1867, a Argentina e o Uruguai se retiram da guerra. Ao lado de Caxias, outro militar brasileiro que se destacou na campanha do Paraguai foi o general Manuel Luís Osório.
Sob o comando supremo de Caxias, o exército brasileiro foi reorganizado, inclusive com a obtenção de armamentos e suprimentos, o que aumentou a eficiência das operações militares. Fortalecido e sob inteiro comando de Caxias, as tropas brasileiras venceram sucessivas batalhas, decisivas para a derrota do Paraguai. Destacam-se as de Humaitá, Itororó, Avaí, Angostura e Lomas Valentinas.
No início de 1869, o exército brasileiro tomou Assunção, capital do Paraguai. A guerra chegou ao fim em março 1870, com a Campanha das Cordilheiras. Foi travada a batalha de Cerro Corá, ocasião em que o ditador Solano López foi perseguido e morto.
Vale lembrar que, a essa altura, Caxias considerava a continuidade da ofensiva brasileira uma carnificina e demitiu-se do comando do exército, que passou ao conde d'Eu, marido da princesa Isabel. A ele coube conduzir as últimas operações.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

O Tratado da Tríplice Aliança

O objetivo principal era a derrubada do governo paraguaio comandado por Francisco Solano Lopez. Mas o tratado secreto fixava também novas fronteiras no cone sul do continente e abria a navegação dos rios Paraná e Paraguai, questão crucial para o Brasil, já que o acesso à província de Mato Grosso dependia da Bacia do Prata. Na época, o Paraguai, um país com algum nível de industrialização, mantinha uma política protecionista de seu mercado, o que contrariava os interesses ingleses. A guerra, que durou de 1864 a 1870, terminou com a vitória dos aliados e a ruína do Paraguai: 80% da população masculina paraguaia desapareceu no conflito. Sobraram apenas velhos, mulheres e crianças.

O Governo de Sua Majestade o Imperador do Brasil, o Governo da República Argentina e o Governo da Republica Oriental do Uruguai; Os dois primeiros em guerra com o Governo da República do Paraguai por Iha ter esta declarado de fato, e o terceiro em estado de hostilidade e vendo ameaçada a sua segurança interna pelo dito Governo, o qual violou a fé pública, tratado, ordens e os usos internacionais das nações civilizadas e cometeu atos injustificáveis depois de haver perturbado as relações com os seus vizinhos pelos maiores abusos e atentados;

Persuadidos que a paz, segurança e prosperidade de suas respectivas nações tomam-se impossíveis enquanto existir o atual Governo do Paraguai e que é uma necessidade imperiosa, reclamada pelos mais elevados interesses, fazer desaparecer aquele Governo, respeitando-se a soberania, independência e integridade territorial da Republica do Paraguai;

Resolveram, com esta intenção, celebrar um Tratado de Aliança ofensiva e defensiva e para esse fim nomearam seus Plenipotenciários, a saber:

Sua Majestade o Imperador do Brasil ao Ex.mo Sr. Dr. Francisco Otaviano de Almeida Rosa, do Seu Conselho, Deputado à Assembléia Gerai Legislativa e Oficial da Imperial Ordem da Rosa; Sua Excelência o Presidente da República da Argentina ao Ex.mo Sr. Dr. Dom Rufino de Eliralde, seu Ministro e Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros; Sua Excelência o Governador Provisório da Republica Oriental do Uruguai ao Ex.mo Sr. Dr. Dom Carlos de Castro, seu Ministro e Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros;

Os quais, depois de terem trocado seus respectivos poderes, que foram achados em boa e devida forma, concordaram no seguinte:

Art. l.° Sua Majestade o Imperador do Brasil, a República Argentina e a República Oriental do Uruguai se unem em aliança ofensiva e defensiva na guerra promovida pelo Governo paraguaio.

Art. 2.° Os aliados concorrerão com todos os meios de guerra de que possam dispor, em terra ou nos rios, como julgarem necessário.

Art. 3.° Devendo começar as operações da guerra no território da Republica Argentina ou na parte do território paraguaio que é limítrofe com aquele, o Comando em Chefe e direção dos exércitos aliados ficam confiados ao Presidente da mesma República, General-em-Chefe do Exército argentino Brigadeiro General D. Bartolomé Mitre.
Embora as Altas Partes Contratantes estejam convencidas de que não mudará o terreno das operações de guerra, todavia para salvar os direitos soberanos das três nações firmam desde já o princípio de reciprocidade para o Comando em Chefe, caso as ditas operações se houverem de traspassar para o território brasileiro ou oriental.
As forças marítimas dos aliados ficarão sob o imediato comando do Vice-Almirante Visconde de Tamandaré, Comandante-em-Chefe da Esquadra de Sua Majestade o Imperador do Brasil.
As forças terrestres de Sua Majestade o Imperador do Brasil formarão Um exército debaixo das imediatas ordens do seu General-em-Chefe Brigadeiro Manoel Osório.
As forças terrestres da República Oriental do Uruguai, uma Divisão das forças brasileiras e outra das forças argentinas, que designarem seus respectivos Chefes superiores, formarão um exército às ordens imediatas do Governador Provisório da República Oriental do Uruguai, Brigadeiro General D. Venâncio FIores.

Art. 4.° A ordem e economia militar dos exércitos aliados dependerá unicamente de seus próprios Chefes. As despesas de soldo, subsistência, munições de guerra, armamento, vestuário e meios de mobilização das tropas aliadas serão feitas à custa dos respectivos Estados.

Art. 5.° As Altas Partes Contratantes prestar-se-ão mutualmente, em caso de necessidade, todos os auxílios ou elementos de guerra de que disponham, na forma que ajustarem.

Art. 6.° Os aliados se comprometem solenemente a: não deporem as armas senão de comum acordo, e somente depois de derribada a autoridade do atual Governo do Paraguai; bem como a não negociarem separada- mento com o inimigo comum, nem celebrarem tratados de paz, trégua ou armistício, nem convenção alguma para suspender ou findar a guerra, senão de perfeito acordo entre todos.

Art. 7.° Não sendo a guerra contra o povo do Paraguai, e sim contra o seu Governo, os aliados poderão admitir em uma legião paraguaia os cidadãos dessa nacionalidade que queiram concorrer para derribar o dito Governo, e lhes darão os elementos necessários, na forma e com as condições que se ajustarem.

Art. 8.° Os aliados se obrigam a respeitar a independência, soberania e integridade territorial da República do Paraguai. Em conseqüência, o povo paraguaio poderá escolher o Governo e instituições que lhe aprouverem, não podendo incorporar-se a nenhum dos aliados e nem pedir o seu protetorado como conseqüência desta guerra.

Art. 9.° A independência, soberania e integridade territorial da República do Paraguai serão garantidas coletivamente de acordo com o artigo antecedente pelas AItas Partes Contratantes durante o período de cinco anos.

Art. 10. Concordam entre si as Altas Partes Contratantes que as franqueza, privilégios ou concessões que obtenham do Governo do Paraguai hão de ser comuns a todos eles, gratuitamente se forem gratuitas ou com a mesma compensação ou equivalência se forem condicionais.

Art. 11. Derribado o atual Governo da República do Paraguai, os aliados farão os ajustes necessários com a autoridade que ali se constituir para assegurar a livre navegação dos rios Paraná e do Paraguai, de sorte que os regulamentos ou leis daquela República não possam estorvar, entorpecer ou onerar o trânsito e a navegação direta dos navios mercantes e de guerra dos Estados aliados, dirigindo-se para seus territórios respectivos ou para território que não pertença ao Paraguai, e tomarão as garantias convenientes para efetividade daqueles ajustes sob a base de que os regulamentos de polícia fluvial, quer para aqueles dois rios, quer para o rio Uruguai, serão feitos de comum acordo entre os aliados, e os demais ribeirinhos, que dentro. do prazo que ajustarem os ditos aliados aderirem ao convite que lhes será dirigido.

Art. 12. Os aliados reservam-se combinar entre si os meios mais próprios para garantir a paz com a República do Paraguai, depois de derribado o Governo atual.

Art. 13. Os aliados nomearão oportunamente os plenipotenciários para a celebração dos ajustes, convenções ou tratados que se tenham de fazer com o Governo que se estabelecer no Paraguai.

Art. 14. Os aliados exigirão desse Governo o pagamento. das despesas da guerra que se viram obrigados a aceitar, bem como reparação e indenização dos danos e prejuízos causados às suas propriedades públicas e particulares e às pessoas de seus concidadãos, sem expressa declaração de guerra; e dos danos e prejuízos verificados posteriormente com violação dos princípios que regem o direito da guerra.
A Republica Oriental do Uruguai exigirá também uma indenização proporcionados danos e prejuízos que lhe causa o Governo do Paraguai pela guerra em que a obriga a entrar para defender sua segurança ameaçada por aquele Governo.

Art. 15. Em uma Convenção especial se marcará o modo e forma de liquidar e pagar a divida procedente das causas mencionadas.

Art. 16. Para evitar as dissenções e guerras que trazem consigo as questões de limites, fica estabelecido que os aliados exigirão do Governo do Paraguai que celebre com os respectivos
Governos tratados definitivos de limites, sob as seguintes bases:
O Império do Brasil se dividirá da República do Paraguai:
Do lado do Paraná pelo primeiro rio abaixo do Salto das Sete Quedas, Que segundo a recente carta de Mouchez é o Iguaçu e da foz do Iguaçu e por ele acima a procurar as suas nascentes.
Do lado da margem esquerda do Paraguai pelo rio Apa desde a Ìoz iLté as suas nascentes;
No interior, pelos cumes da Serra do Maracaju, sendo as vertentes de lestes do Brasil e as de oeste do Paraguai e tirando-se da mesma serra linhas as mais retas em direção às nascentes do Apa e do Igurcy.
A República Argentina será dividida da República do Paraguai, pelos rios Paraná e Paraguai a encontrar os limites com o Império do Brasil, sendo estes do lado da margem direita do rio Paraguai a Baia Negra.

Art. 17. Os aliados se garantem reciprocamente o fiel cumprimento dos convênios, ajustes e tratados que se devem celebrar com o Governo que se tem de estabelecer na República do Paraguai, em virtude do que foi concordado no presente Tratado de aliança, o qualificará sempre em toda a sua força e vigor para o fim de que estas estipulações sejam respeitadas e executadas pela República do Paraguai.
Para conseguir este resultado concordam que no caso em que urna das Altas Partes Contratantes não possa obter do Governo do Paraguai o cumprimento do ajustado, ou no caso em que este Governo tente anular as estipulações ajustadas com os aliados, os outros empregarão ativa- mente seus esforços para fazê-las respeitar.
Se estes esforços forem inúteis, os aliados concorrerão com todos os seus meios para fazer efetiva a execução daquelas estipulações.

Art. 18. Este Tratado se conservará secreto até que se consiga o fim principal da aliança.

Art. 19. As estipulações deste Tratado, que não dependam do Poder Legislativo para serem ratificadas, começarão a vigorar desde que seja aprovado pelos Governos respectivos, e as outras desde a troca das ratificações que terá lugar dentro do prazo de quarenta dias, contados da data do mesmo Tratado, ou antes se for possível, que se fará na Cidade de Buenos Aires.
Em testemunho do que, nós abaixo-assinados, Plenipotenciários de Sua Majestade o Imperador do Brasil, de sua Excelência o Sr. Presidente da República Argentina e de .Sua Excelência o Sr. Governador Provisório da República Oriental do Uruguai, em virtude de nossos Plenos Poderes, assina- os o presente Tratado e lhe fizemos por os nossos selos.
Cidade de Buenos Aires, 1.° de maio do ano de Nosso Senhor, de mil oitocentos e sessenta e cinco.
(L.S.) Francisco Otaviano de Almeida Rosa
(L.S.) Rufino de Eliralde.
(L.S.) Carlos de Castro. 

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Contextualizando

A Guerra contra Aguirre foi um conflito ocorrido em 1864 entre o Brasil e o Uruguai. O conflito se iniciou quando Aguirre, governante do Uruguai e líder do Partido Blanco , organizou várias invasões contra o território gaúcho que estava cheio de fazendeiros criadores de gado.
Diante deste fato, o governo brasileiro buscou intrometer-se na política uruguaia contra Aguirre a fim de proteger o território gaúcho. O exército brasileiro, em face da invasão do Uruguai, invadiu seu território em março de 1864 .Assim essa intervenção armada pôs fim na guerra civil uruguaia, depondo o presidente Atanasio Aguirre, e empossando seu rival Venancio Flores.
Solano Lopez presidente do Paraguai temendo que o Império Brasileiro e a Republica Argentina desmantelassem os países menores do extremo sul da America do Sul, o temor de Solano o fez aprisionar o barco a vapor brasileiro Marques de Olinda, que transportava o presidente da província de Mato Grosso, mas que o governo paraguaio suspeitava que contivesse armas. Seis semanas depois, o Paraguai invadiu o Mato Grosso. Antes da intervenção brasileira no Uruguai, Solano López já vinha produzindo material bélico moderno, em preparação para um futuro conflito.Em maio de 1865, o Paraguai também fez várias incursões armadas em território argentino, com objetivo de conquistar o Rio Grande do Sul. Contra as pretensões do governo paraguaio, o Brasil, a Argentina e o Uruguai reagiram, firmando o acordo militar chamado de Tríplice Aliança.                                          

domingo, 11 de novembro de 2012

Guerra do Paraguai: um dos maiores conflitos armados da América Latina


A Guerra do Paraguai foi o maior conflito armado internacional ocorrido na América do Sul no século 19. Rivalidades platinas e a formação de Estados nacionais deflagraram o confronto, que destruiu a economia e a população paraguaias.
É também chamada Guerra da Tríplice Aliança (Guerra de la Triple Alianza) na Argentina e Uruguai e de Guerra Grande, no Paraguai.

A Guerra do Paraguai durou seis anos. Teve seu início  em dezembro de 1864 e só chegou ao fim no ano de 1870, com a morte de Francisco Solano Lopes em Cerro Cora.